Os Campos Passonovenses

Os campos Passonovenses são belos e de grande fragilidade, localizados dentro da região subtropical brasileira, onde as plantas são submetidas a dupla estacionalidade, sendo uma fisiológica, provocada pelo frio das frentes polares, e outra seca, mais curta, com déficit hídrico, tornando os campos quase desprovidos de vegetação em época desfavorável.

Os campos passonovenses são denominados de maneira genérica como “pampa”, termo de origem indígena para “região plana”, e em geral, parecem ser formações edáficas (do próprio solo) e não climáticas. É uma região de vegetação aberta e de pequeno porte. Outras plantas são encontradas de forma escassa, como tufos de capim que atingem até um metro de altura.

A pressão do pastoreio e a prática do fogo não permitem o estabelecimento da vegetação arbustiva, como se verifica em vários trechos da área de distribuição dos Campos do Sul.

À primeira vista, a vegetação campestre mostra uma aparente uniformidade, apresentando nos topos mais planos um tapete herbáceo baixo (de 60cm a 1m), ralo e pobre em espécies, que se torna mais denso e rico nas encostas, predominando gramíneas, compostas e leguminosas; As matas apresentam inúmeras espécies arbóreas de interesse comercial.

Os campos limpos, são chamados estepes úmidas e de um modo geral, são destituído de árvores, com uma composição bastante uniforme e com arbustos espalhados e dispersos. O solo é revestido de gramíneas, subarbustos e ervas.

A FORMAÇÃO DOS AREAIS

Há 250 milhões de anos, na chamada Era Mesozóica, quando América e África eram unidas, um cenário de dunas de areia estendia-se do sul do atual Mato Grosso até o Uruguai e Argentina, formando o deserto Botucatu.

Quando houve a ruptura dos continentes, um mar de lava jorrou das fendas abertas pela fratura e espalhou uma camada de basalto que soterrou o deserto. Mas ele ainda está sob nossos pés, criando meios de se fazer presente na superfície.

Um recente período de seca, estimado entre 6,5 mil a 3 mil anos atrás, teria reacendido a vocação desértica da região, multiplicando as áreas de erosão.

A área de ocorrência de areais tem como substrato o arenito da Formação Botucatu. Sobre esta formação Mesozóica assentam-se depósitos arenosos não consolidados, originários de deposição hídrica e eólica durante o Pleistoceno e Holoceno. São nestes depósitos que vão se originar os areais.

A região de ocorrência dos solos altamente arenosos, com baixa coesão entre partículas, baixa fertilidade natural e uma vegetação rala e esparsa fazem da região sudoeste do Rio Grande do Sul, a partir do meridiano de 54º em direção oeste até a fronteira com a Argentina e Uruguai uma região com altas taxas de erosão hídrica e eólica, deixando estes solos entre os mais suscetíveis a degradação, chegando a apresentarem peculiaridades de deserto.

A degradação do solo nesta região se manifesta em vastas áreas, apresentando a forma de areais. Estes areais ocupam uma larga faixa onde localizam-se os municípios de Alegrete, Cacequi, Itaqui, Maçambará, Manoel Viana, Quaraí, Rosário do Sul, São Borja, São Francisco de Assis e Unistalda e especialmente na região de Passo Novo, onde está localizado o 3o maior deserto em formação do Brasil, que é o Deserto de São João.

Ações como, cultivos intensos e contínuos, queimadas indiscriminadas, desmatamentos, ocupação do solo com pastejo sem planejamento, áreas de terra desnudas e abandonadas estão livres para os agentes naturais como o vento e a chuva agirem e, assim, favorecer a degradação desses solos.

Os trabalhos iniciais relativos à interpretação do processo de arenização na região de Passo Novo apresentam como explicação para a agravamento do processo, a busca de maior rentabilidade agrícola, a partir do arrendamento de terras e a introdução da agricultura mecanizada, particularmente na lavoura de soja.

Por outro lado, dados provenientes da arqueologia indicam a existência de sítios arqueológico sobre estes areais. Estes dados indicam que o processo de arenização é de origem natural, ou seja, decorre da dinâmica da natureza na sua origem, sendo anterior a colonização europeia na região, e que, a ação do homem moderno apenas intensificou este processo.

Sítios arqueológicos com objetos de cerâmica, pedras lascadas e pontas e flecha, situados sobre os areais, parecem indicar que as formações desérticas eram contemporâneas também dos indígenas.

A água da chuva e a ação do vento representam a parte da natureza na história. Contudo, ela não é a única responsável. O agravamento do processo se deve às atividades agrícola e pecuária. As trilhas marcadas no chão pelas máquinas de arar a terra e o pisoteio do gado também se transformam em ravinas (canais rasos de escoamento), devido à frágil formação do solo.

Quando estas ravinas atingem o lençol freático, viram boçorocas, neste caso, há sempre um filete de água correndo, faça chuva ou sol. A água verte lateralmente e acelera a erosão. Manchas, ravinas e boçorocas se juntam e criam o areal. Em alguns pontos, a erosão provoca crateras de até 20 metros de profundidade.

Atenção: este fato histórico foi narrado de forma sintética/resumida para o site de Passo Novo.

Passo Novo, RS, 05 de junho de 2021.

Por Valdomiro V. Martins, o Compendiador.

Trabalho elaborado por Valdomiro V. Martins, o Compendiador. (parte integrante do Livro “A História de Passo Novo”).

Direitos autorais reservados (Lei Federal n.º 9.610, de 19/02/1998). As lendas e estórias porém são livres.

Permitido a reprodução para fins didáticos e culturais (art. 29, I, Lei Federal n.º 9.610, de 19/02/1998).

Print Friendly, PDF & Email
Compartilhe: