A Lenda do Cerro do Letreiro

A região do Jacaquá com seus cerros próximo a barra do arroio Jacaquá, é sempre envolta numa aura de mistérios e magia, não só pela sua natureza exuberante mas também por suas estórias e lendas.

Foz do Arroio Jacaquá/Passo do Catarino

Das lendas locais uma é especial, a Lenda do Cerro do Letreiro, de cuja estória vem o nome do cerro.

Conta a estória que no topo Norte do Cerro do Letreiro, em sua parte mais alta, existia antigamente uma espécie de monólito[1] de pedra, com pouco mais de um metro e meio de altura e quatros faces com cerca de trinta centímetros cada uma, cercado por um pequeno circulo de pedras.

Nas quatro faces existiam diversas inscrições gravadas, e que acreditavam alguns se tratar de um mapa com instruções para viajantes muito especiais.

Face Norte do Cerro do Letreiro

Outros diziam se tratar de obra feita por marinheiros[2] vindos de uma terra muito, muito distante, e que, séculos antes do descobrimento da América, entraram navegando pela Bacia do Rio da Prata e depois seguiram no rumo Leste, adentrando por um rio, o Ibicuí, que vinha do lado que o sol nascia, chegando até ali.

Os marinheiros chegaram até a região do Jacaquá aonde encalharam seu barco próximo a uma ilha existente abaixo do Passo do Catarino, pois era época de estio. Com o encalhe ficaram desprotegidos[3] e foram atacados ferozmente por uma tribo[4] hostil que habitava o local. Desesperados fugiram para a margem esquerda[5] do rio tentando buscar proteção.

Ao saírem da margem do rio, o que enxergaram foi um local coberto por imensas matas de um lado e várzeas (banhados) pelo outro. Ao fundo viram a base Norte do Cerro do Letreiro, distante cerca de dois quilômetros donde estavam e até ele uma trilha segura[6].

Em fuga chegaram ao Cerro, aonde foram recebidos pelos índios que ali moravam e, ao contrário dos outros, estes lhes deram guarida até o fim dos seus dias.

A pequena tribo de índios vivia ao pé do Cerro, praticando rituais de adoração à uma estranha pedra que existia em seu topo. Diziam que certas atividades só ocorriam baseadas na projeção da sombra[7] do monólito em determinadas pontos do circulo de pedras. Os marinheiros sabendo que a pedra seria sempre protegida, escreveram nela uma mensagem para aqueles que, porventura, um dia viessem à procura deles.

Segundo a lenda passada de forma oral, nas faces da pedra estava escrito assim: “chegamos até aqui. Não conseguimos voltar. Orem por nossas almas.” E no quarto gomo (ou face) a data do registro.

Algumas das inscrições contidas no monólito foram copiadas pelos índios na parede de pedra, existente abaixo num dos lados do cerro, onde habitava a tribo.

Inscrições gravadas na rocha Concepção artística do monólito

No início da década de 1980, o monólito foi arrancado de seu local e o círculo de pedras foi desmanchado, destruindo com isso toda sua história arqueológica e deixando apenas os vestígios da sua existência.

 

Segundo algumas pessoas moradoras das proximidades, uma equipe de “pesquisadores[8]” chegou ao local em dois veículos e ali permaneceu por uma tarde e uma noite, e no amanhecer do dia seguinte o monólito já não estava mais no local.

Outras pessoas afirmam que ele foi destruído por moradores da região, que estavam a procura de “enterro de dinheiro” e o demoliram pensando existir ouro no seu interior, como nada encontraram, escavaram a sua base destruindo o círculo de pedras.

O certo é que se ele realmente não foi destruído, onde estará? Que segredos guardará? O que realmente quer dizer as inscrições em suas faces? Será que outras pessoas vindas de um continente distante pisaram este solo antes dos colonizadores europeus e aqui permaneceram até o fim de suas vidas?

As dúvidas são muitas e a única certeza real que se tem é uma cratera medindo três metros de diâmetro por um metro de profundidade, que hoje pode ser achada no alto do Cerro do Letreiro, no local aonde antes se encontrava o monólito.

Local onde ficava o monólito

 

 

[1] Monólito é uma obra ou monumento feito de uma só pedra.

[2] A origem dos marinheiros nunca ficou bem definida. Não se sabe ao certo se eram chineses, vikings ou fenícios.

[3] Navegando eles se mantinham longe das flechas dos seus atacantes que estavam nas margens. Encalhados eram presas fáceis.

[4] A tribo habitava a margem direita do Rio Ibicuí, hoje Município de São Francisco de Assis.

[5] O canal de navegação é mais profundo entre a ilha e a margem esquerda, sendo este o local aonde provavelmente encalhou o barco;

[6] A trilha usada foi onde hoje existe uma estrada que liga a estação férrea do Jacaquá ao Passo do Catarino;

[7] A pedra servia como uma espécie de calendários rústico, provavelmente com influência andina.

[8] Segundo informações pareciam ser estrangeiros.

 

Passo Novo, RS, 18 de fevereiro de 2006.

 

Trabalho elaborado por Valdomiro V. Martins, o Compendiador. (parte integrante do Livro “A História de Passo Novo”).

Direitos autorais reservados (Lei Federal n.º 9.610, de 19/02/1998). As lendas e estórias porém são livres.

Permitido a reprodução para fins didáticos e culturais (art. 29, I, Lei Federal n.º 9.610, de 19/02/1998).

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