A Lenda da Lagoa Parové

A Lagoa Parové[1] está situada numa depressão formada entre duas coxilhas localizadas na região do Alto Parové, à margem de uma estrada de terra, à cerca de 49,2km da Vila Passo Novo[2] e sempre foi fonte de mistérios, estórias e lendas de encantamentos e assombrações.

A lagoa possui cerca de 1.080 metros de comprimento por 620 metros de largura, formando um espelho d’água com cerca de 44,0[3] hectares, sendo um local de grande beleza natural e atualmente tem as seguintes limitações: ao Norte com os campos de Joaquim Pedroso; ao Sul com os campos de José Rodrigues Severo e ao Leste com a estrada da Lagoa Parové (ou Cascata)/BR 290, sendo que do outro lado da estrada estão os campos de Geni Franco Pedroso e Luiz Augusto Franco Alves.

Quando é cheia pelas chuvas, suas águas correm na direção Leste, indo desaguar no Arroio Tamanduá, este por sua vez deságua no Arroio Parové, que é tributário do Arroio Itapevi.

A Oeste da Lagoa Parové, a algumas centenas de metros, fica a nascente do Arroio Lajeado Grande, que cruza pela Vila Passo Novo.

A Lagoa é fonte de muitas estórias que são contadas pelos moradores próximos à ela. Entre essas estórias está aquela que diz que em suas margens de águas paradas ninguém acampa, nem chega perto durante a noite, porque do seu interior surgem aparições que assombram os desavisados, colocando-os em fuga.

Também campeiros e trabalhadores das fazendas próximas dizem que do meio das águas emerge uma bola de fogo que cai na garupa dos cavaleiros que não respeitam o encanto e se atrevem a aproximar-se dela durante a noite. Esta bola de fogo faz com que o cavalo enlouqueça e corra em direção às águas numa tentativa de submergir o cavaleiro e matá-lo afogado. A única forma de escapar e saltando da montaria, deixando que se vá sozinho até as águas e lá se afogue.

Também dizem que em tempos de estiagem uma grossa corrente enferrujada que está presa ao fundo da lagoa e cuja ponta ninguém enxerga, aparece e nem com várias juntas de bois consegue-se arrancá-la. Para se conseguir mover a corrente e descobrir o seu segredo é necessário que seja formada uma junta de bois mansos pretos gêmeos e nascidos numa sexta-feira santa.

A LAGOA PAROVÉ – UM SÍMBOLO DE AMOR

Porém, das várias estórias uma é a mais importante.

Segundo o folclore que é contado a nível nacional, na região da Parové vivia uma tribo de índios Charruas, primitivos habitantes da região de Passo Novo, e nessa tribo existia uma linda jovem índia chamada Ponaim[4], que era a paixão de todos os guerreiros por causa da sua beleza inigualável.

Certa vez um guerreiro chamado Camaco[5] enamorado de Ponaim, mas que não tinha o seu amor correspondido pela índia, pois esta, muito vaidosa, amava somente a sua própria beleza, vinha depositar a seus pés os frutos de suas caçadas e valiosos troféus de combates na tentativa de despertar nela algum interesse por sua pessoa.

Ponaim brincava com o amor do guerreiro e um dia achando que lhe dava uma tarefa impossível, disse-lhe que casaria com ele se trouxesse a pele do Cervo Berá para forrar o leito de casamento.

O Cervo Berá era um animal encantado de pêlo muito brilhante e o mato[6] era a morada dele.

Acreditando na promessa de Ponaim, Comaco decidiu caçar o Cervo encantado, então armou-se com vários pares de boleadeiras, montou a cavalo e saiu a rastrear, dizendo que só voltaria depois de capturar e courear o animal.

Depois de muitas luas, já num fim de tarde ele estava cavalgando à margem da lagoa quando viu o magnífico animal parado, como que à espera de ser laçado.

Mesmo com a sua aproximação, estranhamente o cervo continuava parado no mesmo local e o índio aproximou-se devagar, conversando com o animal que continuou imóvel, tanto que Camaco guardou o laço e as boleadeiras e procurou capturá-lo vivo e oferecê-lo de presente à índia e assim conquistar definitivamente o seu amor.

Depois, quando o animal já parecia estar dominado, tentou montá-lo, mas o cervo ao sentir o peso do cavaleiro sobre o lombo, disparou em direção à lagoa, atirando-se nas águas, levando Camaco para o fundo e desaparecendo para sempre.

A índia Ponaim ao saber do ocorrido e acreditando na sinceridade do amor de Camaco, veio chorar sua tristeza à beira da lagoa. Dizem que chorou tanto a perda de seu amado que suas lágrimas amargas tornaram a lagoa em água salobre. Na língua dos índios Charruas “pavoré” quer dizer salobre, amarga.

Essas lendas ainda hoje têm influenciado a todos que lá andam montados a cavalo, para que, ao cruzarem pela Lagoa, fiquem atentos e prontos para saltarem a qualquer momento, antes que o cavalo se assuste e arraste o ginete para o fundo das águas.

[1] O correto é falar “Lagoa Parové” e não “Lagoa do Parové”, pois na verdade a Lagoa deu nome a região (do Parové) e não o contrário, ou seja, a região ter dado nome a Lagoa;

[2] A lagoa fica a 49,2Km da Vila Passo Novo, seguindo-se pela estrada do Km 29, entrando na Estrada da Lagoa Verde, cruzando-se pela estrada do São João e finalmente acessando a estrada da Lagoa Parové até encontrar o local.

[3] Curiosamente, com 44,0 hectares, a Lagoa Parové tem a mesma área do Estado do Vaticano;

[4] Ou Panaim;

[5] Ou Camacho;

[6] Caá Berá, Caaverá, Caverá (mato brilhante) – região onde está situada a Lagoa;

Passo Novo, RS, 11 de abril de 2009.

Por Valdomiro V. Martins, o Compendiador.

 

Trabalho elaborado por Valdomiro V. Martins, o Compendiador. (parte integrante do Livro “A História de Passo Novo”).

Direitos autorais reservados (Lei Federal n.º 9.610, de 19/02/1998). As lendas e estórias porém são livres.

Permitido a reprodução para fins didáticos e culturais (art. 29, I, Lei Federal n.º 9.610, de 19/02/1998).

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