O Bombardeiro Canberra

No dia 30 de junho de 1972, um CANBERRA, um dos aviões bombardeiros mais característicos da FAP – Força Aérea Peruana, mais precisamente o 245, que se dirigia à Argentina, perdeu-se sem combustível em meio a uma forte tempestade, vindo a cair no local conhecido como “Areias”, próximo ao Polo Educacional Costa Leite, na região do Jacaquá.

Seus três tripulantes vendo que não restava mais nenhuma esperança, saltaram de paraquedas, porém o capitão Victor Zevallos não sobreviveu e, embora seu capacete e paraquedas tenham sido encontrados no mesmo dia, seu corpo só foi achado vinte e nove dias depois quando “Belo” Kerch, peão da Fazenda Santa Clara de propriedade da família Dornelles de Dornelles, ao camperear percebeu que havia algo estranho com o gado que berrava assustado em meio a várzea da Sanga da Divisa e, ao aproximar-se para verificar o que era, encontrou os restos mortais do Capitão.

O Capitão tocou o solo a cerca de 10Km do local da queda do avião[1] e provavelmente feriu-se gravemente durante o salto e aterrisagem. Como estava num local ermo saiu errante pelos campos, vindo a falecer possivelmente em consequência dos ferimentos sofridos com a queda, daí o fato de apenas seu paraquedas e capacetes terem sido encontrados.

No ano de 1972 o Brasil vivia sob o regime militar e os Estados Unidos estavam em plena guerra fria com a União Soviética. Os políticos brasileiros seguiam os ideais norte-americanos, enquanto o Peru era presidido por Juan Velasco Alvaro, general nacionalista que ampliou a reforma agrária e desapropriou empresas norte-americanas, e nesse cenário, a queda do avião peruano em território brasileiro causou uma mobilização a nível nacional da FAB – Força Aérea Brasileira e do próprio Exército Brasileiro, temendo um possível ataque de forças estrangeiras, uma vez que naquele tempo também Argentina era visto como uma espécie de perigo eminente.

Antes de encontrar o corpo do capitão Zevallos, a população regional desenvolveu as mais curiosas histórias, muitos diziam que os tripulantes estavam em missão secreta e que haviam jogado uma maleta para fora do avião antes de pularem, outros afirmavam que na verdade era Leonel Brizola que estava tentando retornar do exílio e assim os boatos proliferavam[2].

Os dois sobreviventes foram levados, pela embaixada peruana, de ônibus até Porto Alegre, e de lá seguirem num voo comercial até o Rio de Janeiro, mesmo a FAB tendo colocado um avião à disposição.

Durante todo o tempo que demoram as buscas, vários oficiais chegaram para apurar as circunstâncias do acidente e interrogavam as pessoas e peões das fazendas próximas donde caiu o bombardeiro peruano, porém tudo aquilo que foi apurado foi considerado como sendo “assunto de segurança nacional” e jamais foi revelado a população.

[1] Os destroços do avião ficaram guardados no 12.º B E CMB, em Alegrete, até sofrerem o destino “adequado”;

[2] Um dos boatos falava que o Capitão Zevallos havia embarcado em um trem, já que a linha férrea cruzava a poucos quilômetros do local do salto. Outro boato é que tinha seguido a pé até a Argentina, carregando consigo uma maleta.

Atenção: este fato histórico foi narrado de forma sintética/resumida para o site de Passo Novo.

Passo Novo, RS, 05 de junho de 2021.

Por Valdomiro V. Martins, o Compendiador.

Trabalho elaborado por Valdomiro V. Martins, o Compendiador. (parte integrante do Livro “A História de Passo Novo”).

Direitos autorais reservados (Lei Federal n.º 9.610, de 19/02/1998). As lendas e estórias porém são livres.

Permitido a reprodução para fins didáticos e culturais (art. 29, I, Lei Federal n.º 9.610, de 19/02/1998).

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