Passo Novo está assentamento sobre o Aquífero Guarani, uma das maiores reservas de água doce do mundo.
O Aquífero Guarani é formado por águas subterrâneas que se acumularam no subsolo nos poros (vazios) e fraturas das rochas. Algumas rochas são mais porosas do que as outras e funcionam como uma gigantesca esponja, onde as águas ficam armazenadas, com a grande vantagem de poderem ser consumidas diretamente, sem a necessidade de tratamento prévio, como é o caso das águas distribuídas na rede pública de Passo Novo.
Ultimamente vem sendo muito discutida a importância do Aquífero Guarani, o qual tem uma área de influência muito extensa, estando disponível para captação nos estados do Centro Oeste, Sudeste e Sul do Brasil e parte do Paraguai, Uruguai e Argentina, motivo pelo qual foi inicialmente denominado Aquífero Mercosul.
Para compreender a origem deste aquífero deve-se voltar ao passado, mais precisamente ao início da Era Mesozoica, conhecida por ser a “Era dos Dinossauros”. No início deste intervalo de tempo, existia um imenso deserto cobrindo grande parte da América do Sul, muito semelhante ao que é hoje o Deserto do Saara.
Nos ambientes desérticos, predomina o transporte e sedimentação de grande quantidade de areia através dos ventos, formando gigantescas dunas. Uma característica marcante das areias eólicas (depositadas pelo vento), é a de apresentarem grãos bem arredondados e esféricos, o que faz com que o pacote sedimentar fique muito poroso, cheio de vazios intercomunicados entre si, o que confere à rocha sedimentar, assim formada, excelentes condições de armazenamento de água subterrânea.
Após a sedimentação destas areias, ocorreu intenso vulcanismo fissural, com a saída de grande quantidade de lavas através de fendas quilométricas, resultantes do início do processo de separação entre a América do Sul e o Continente Africano, o qual deu origem ao Oceano Atlântico. Estas lavas cobriram os arenitos tornando-os parcialmente confinados e protegidos, posicionando-os a profundidades de até 2000 metros.
Em Passo Novo, este fenômeno do encobrimento das areias (deserto) pelas lavas vulcânicas fica bem visível para quem viaja pela RST 377, no sentido Passo Novo/Alegrete, logo após a Coxilha da Palma, onde um dos lados do Arroio Mato Alto é formado por areias e processos de arenização e, do outro lado de sua margem, evidencia-se o derramamento basáltico.
Com o passar dos anos, os vazios entre os grãos do arenito foram sendo preenchidos por água, tornando-o um dos maiores reservatórios de água subterrânea que se conhece no mundo, com um volume estimado de 48.000 km³, quantidade suficiente para fornecer água para toda a população atual do Brasil por 3.500 anos.
Este aquífero recebe uma recarga natural, a partir das águas das chuvas, de tal forma que uma exploração racional possibilita abastecer continuamente uma população de milhões de pessoa sem comprometer suas reservas.
Outra característica deste aquífero é o fato de fornecer, em determinadas regiões, água quente, com temperaturas de 33 a 45 °C, o que possibilita o seu uso para o turismo, em balneários termais, como fonte alternativa de energia e até para a minimizar os efeitos de geadas.
A arquitetura arqueada para baixo do pacote sedimentar que constitui o Aquífero Guarani é resultante da pressão dos derrames de lavas basálticas sobre eles depositados, da ativação de falhamentos e arqueamentos regionais e do soerguimento das bordas da bacia sedimentar do Paraná.
O Aquífero Guarani é talvez o maior manancial de água doce subterrânea transfronteiriço do mundo, estendendo-se desde a Bacia Sedimentar do Paraná (Brasil Paraguai e Uruguai) até a Bacia do Chaco/Paraná na Argentina, principalmente.
Está localizado no Centro-Leste da América do Sul, entre 12º e 35º de Latitude Sul e entre 47º e 65º de Longitude Oeste. 100% do território passonovense está sobre o Aquífero Guarani.
O termo Aquífero Guarani é a denominação formal dada ao reservatório transfronteiriço de água subterrânea doce, formado pelos sedimentos fluviolacustres do período Triássico (245 a 208 milhões de anos. Formações Piramboia e Rosário do Sul no Brasil, Buena Vista no Uruguai); e sedimentos eólicos desérticos do período Jurássico (208 a 144 milhões de anos. Formações Botucatu no Brasil, Misiones no Paraguai e Tacuarembó no Uruguai e Argentina).
Esta denominação unificadora foi dada pelo geólogo uruguaio Danilo Anton em homenagem à nação Guarani que habitava essa região nos primórdios do período colonial. Vale salientar que este sistema aquífero foi primeiramente denominado de Aquífero Gigante do Mercosul, por ocorrer nos quatro países participantes do referido acordo comercial.
O Aquífero Guarani tem extensão total aproximada de 1,2 milhões de km², sendo 840 mil km² no Brasil, 225,5 mil km² na Argentina, 71,7 mil km² no Paraguai e 58,5 mil km² no Uruguai.
A porção brasileira integra o território de oito Estados: MS (213.200km²), RS (157.600km²), SP (155.800km²), PR (131.300km²), GO (55.000km²), MG (51.300km²), SC (49.200km²) e MT (26.400km²). As reservas permanentes de água são da ordem de 45.000 km³ (ou 45 trilhões de metros cúbicos), considerando uma espessura média aquífera de 250m e porosidade efetiva de 15%, e correspondem à somatória do volume de água de saturação do Aquífero mais o volume de água sob pressão.
As reservas exploráveis do Aquífero correspondem à recarga natural (média plurianual) e foram calculadas em 166km³/ano ou 5.000m³/s, e representa o potencial renovável de água que circula no Aquífero. A recarga natural ocorre segundo dois mecanismos: por meio de infiltração direta das águas de chuva na área de afloramento; e, de forma retardada, em parte da área de confinamento, por filtração vertical ao longo de descontinuidades das rochas do pacote confinante, onde a carga piezométrica favorece os fluxos descendentes.
Sob condições naturais, apenas uma parcela das reservas reguladoras é passível de exploração. Em geral, esta parcela é calculada entre 25% e 50% das reservas reguladoras ou de 40 a 80 km³/ano. Este volume pode aumentar dependendo da adoção de técnicas de desenvolvimento de aquíferos hoje disponíveis.
São porções de recarga do Aquífero Guarani: as nascentes do Rio Araguaia (GO/MT/MS), vale do Rio Ibicuí (RS. Inclusive todo o território de Passo Novo), Planalto Catarinense (SC) e nascentes do Rio Ivaí (PR).
Atenção: esta narrativa foi realizada de forma sintética/resumida para o site de Passo Novo.
Passo Novo, RS, 05 de junho de 2021.
Por Valdomiro V. Martins, o Compendiador.
Trabalho elaborado por Valdomiro V. Martins, o Compendiador. (parte integrante do Livro “A História de Passo Novo”).
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