A Sereia da Lagoa Parové

A lendária Lagoa Parové sempre foi um local de abundantes histórias, assombros e lendas.

Algumas dessas lendas e histórias, tais como a história do romance dos índios Ponaim e Comaco, o lendário Cervo Berá, a corrente enferrujada que aparece junto à margem da lagoa nas sextas-feiras santas, a qual, em cuja extremidade que fica sob as águas, esconde um mágico tesouro que, para ser revelado, deve ter a corrente puxada somente por uma junta de bois pretos nascidos gêmeos numa Sexta-Feira Santa, são reconhecidas Brasil a fora, sendo narradas em livros e referidas como integrantes do folclore gaúcho e regional.

Outras histórias e lendas são contadas por pessoas que habitam na região da Lagoa Parové ou, que sendo passante por aquele local, vivenciaram algum fenômeno.

Um relato muito antigo, que quase já se perdeu no tempo, vez que remonta ao século XIX ou, segundo outros, aconteceu no tempo dos jesuítas (século XVIII), narra a história de uma mulher residente naquela localidade que engravidou. Essa senhora, ao que parece, residia sozinha. Ela, com a ajuda de uma velha parteira, deu à luz à uma sereia e, no início dessa história, quando os vizinhos ou conhecidos iam visitá-la para ver a recém nascida, ambas diziam que a criança estava dormindo.

Com o passar dos dias, as desculpas eram de que a criança estava um pouco adoentada e era conveniente evitar contato ou aproximar-se, tudo para evitar que alguém visse a bebê.

Em certa manhã, numa dessas ocasiões de visitas, uma senhora se aproximava da residência pelo meio do campo, por entre as altas coxilhas que existem por ali, quando avistou ao longe a parteira que seguia apressadamente em direção à Lagoa, carregando em seu colo a criança.

A senhora estranhou aquela movimentação e decidiu seguir atrás para ver o que era aquilo que estava acontecendo. Para não ser vista, a senhora seguiu por entre as cordilheiras de pedras que emolduram a Lagoa e, ao chegar próxima à margem, no local onde a parteira havia parado e se acocorado, viu uma cena sem igual: a parteira, fazendo orações em voz alta e pedindo proteção divina, deitou a criança no chão e começou a desenrolar os panos que a vestiam. Foi quando a verdade apareceu: a bebê era uma menina da cintura para cima e, da cintura para baixo, tinha escamas e uma forma que lembrava a de um peixe.

A parteira levantou a criança totalmente nua do chão e se aproximou da beirada da lagoa onde, ainda em altas orações, a largou vagarosamente nas águas.

A curiosa senhora assustou-se com aquilo, virou-se e voltou correndo para a sua casa. Ao chegar em casa, contou a história para a sua família e todos decidiram ir até a margem da lagoa para ver o que estava acontecendo. Ao chegarem à margem não encontraram mais ninguém, somente alguns panos que ficaram abandonados no local. Ninguém sabe dizer que o que aconteceu à criança, tampouco que destino teve a parteira e a mãe da sereia, pois suas histórias se perderam embaixo da poeira do tempo.

Os anos passaram e, algumas décadas depois, nasceu a lenda da Sereia da Lagoa Parové, que é a história de uma bela mulher que, de tempos em tempos, surge em meios às águas entoando lindos cantos para pescadores, caçadores e campeiros na tentativa de seduzi-los a entrar na Lagoa. Muitas pessoas afirmam que viram e ouviram. E os que foram atrás não voltaram para contar a história.

O certo é que a Lagoa do Parové é mágica esconde muitos mistérios.

E, na realidade, por mais incrível que possa parecer (ou até mesmo pode parecer ser uma loucura), em certas épocas do ano, ou sob certas condições climáticas, ela, a Lagoa do Parové, transforma Passo Novo (sim, o território de Passo Novo) numa ilha, sim, uma ilha, um evento geográfico inacreditável. Mas essa história será contada numa outra oportunidade.

Passo Novo, RS, 15 de maio de 2025.

A lenda é livre, popular e folclórica. Por Prof. Dr. Valdomiro V. Martins, o compendiador. Parte integrante do livro “A História de Passo Novo”, Livro Compêndio no 01 – Século XIX e XX, páginas 27 e 28.

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