Muitas pessoas que viajam pela estrada municipal do Cerro Tigre, ao cruzarem pelo cerro da ponte de pedra[1], não imaginam que aquela região foi testemunha da vida de um escravo que amou demais a liberdade, um homem de muito bom coração, que nunca fez mal a ninguém.
Seu nome era Valentin, era magro, maltrapilho, cabelos meio grisalhos pelo boa idade e arisco que nem um sorro. Já a mais de década vivia escondido nas grotas do cerro, e sempre que via alguém fugia, pois o cerro, com suas encostas íngremes, servia como uma proteção natural à sua fuga.
Em suas andanças pelos campos a procura de alimentos, sempre que encontrava algum objeto perdido, ao invés de levar consigo, ele os colocava bem a vista para que os donos encontrassem.
Valentin vivia da caça e de algumas poucas coisas que plantava próximo a encosta do cerro. Porém, por volta de 1850, de madrugada, quando retornava de uma caçada, foi perseguido em campo aberto e laçado por Joaquim da Silva Genro, que o fez prisioneiro. Após a captura Joaquim o comprou de seu antigo proprietário, levando-o para trabalhar como escravo em uma chácara. Valentin faleceu vários anos após, já bem velho, porém jamais deixou de ser um bom homem.
Deus permitiu que aquele acidente geográfico ficasse sendo conhecido como o “Cerro do Negro”, em reconhecimento às bondades de Valentim, que, embora tenha perseguido a liberdade, morreu escravo.
[1] Muitas pessoas confundem o Cerro do Negro, que é o local aonde se encontra a ponte de pedra, uma obra da natureza sem igual em toda a Fronteira Oeste, com o Cerro do Tigre, que é na verdade um alto platô localizado na várzea do Rio Ibicuí, atrás do Cerro Chato e próximo à Fazenda Reconquista;
Atenção: este fato histórico foi narrado de forma sintética/resumida para o site de Passo Novo. Importante salientar que, ao tempo da elaboração da pesquisa de campo, a ponte de pedra ainda estava hirta.
Passo Novo, RS, 23 de maio de 2008.
Por Valdomiro V. Martins, o Compendiador.
Trabalho elaborado por Valdomiro V. Martins, o Compendiador. (parte integrante do Livro “A História de Passo Novo”).
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